Dia sem tabaco

A montanha mágica
"Simplesmente não compreendo como alguém possa viver sem fumar. Priva-se por assim dizer, do que há de melhor na vida. Em todo o caso lhe escapa um prazer magnífico. Quando acordo pela manhã, já me alegro com a idéia de poder fumar durante o dia, e quando tomo uma refeição, já penso em fumar depois. Sim senhor, posso dizer, com um pouco de exagero, que como apenas para ter uma oportunidade de fumar. Um dia sem tabaco seria para mim o cúmulo da insipidez, um dia totalmente vazio, sem o mínimo atrativo, e se eu qualquer dia despertasse sabendo que não poderia fumar, acho que não teria coragem nem para me levantar. Francamente, eu ficaria na cama. Olhe, quando a gente fuma um charuto que puxa bem... claro que não deve estar furado, o que constitui um defeito muito desagradável... quero dizer, quando a gente fuma um charuto bom, sente-se garantido e nada pode-lhe acontecer. É a mesma coisa como deixar-se ficar deitado numa praia de mar, fica-se deitado, não é? Não se tem necessidade de nada, nem de trabalho nem de distrações... E fuma-se no mundo inteiro graças a Deus!!! Ao que me parece, não existe nenhum lugar onde esse prazer seja desconhecido, por mais longe que nos arraste o destino. Até o exploradores das regiões polares levam fumo em abundância, para que possam aguentar os esforços das suas viagens. Isto sempre me pareceu muito simpático. Pode acontecer que uma pessoa ande muito mal... Suponhamos, por exemplo, que me encontre num estado lamentável... mas, enquanto tiver o meu charuto, aguentarei firme, disto tenho certeza. O charuto me faria vencer qualquer obstáculo." Hans Castorp conversando com seu primo Joaquim no mais perfeito de todos os livros A montanha mágica, de Thomas Mann. Eu me sinto como Hans Castorp... mas não quero terminar como ele, morto... com problemas no pulmão, na alma e no coração. Mas é muito difícil parar de fumar... muito... muito.... muito... muito...

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