L.15 anos e mais duas mulheres

O Brasil está chocado com a história da adolescente acusada de furto que ficou presa durante 20 e poucos dias numa cela com mais de 20 homens. Ela foi violentada de todas as formas possíveis e agora está sob a custódia do Estado. Mas eu queria entender como L. foi parar nesta cela...
A sua história começa com a estrada Belém-Brasília criada em 1975 e que fez a pequena Abaetuba e sua vizinha Bacarena, cidade natal de L.,no interior do Pará perderem a sua principal fonte de renda, produção de cachaça nos mais de 50 engenhos da região, e ganhar outra: ser rota de passagem para o Oceano do tráfico de drogas. Mais ainda, com a chegada do porto que distribui minério produzido pela Vale do Rio Doce para o resto do mundo. O que isto tem a ver? Com esta conjunção de fatores desencadeados por mais de trinta anos, mulheres como L. não tem muito o que fazer a não ser prostituição e drogas. Sem trabalho, sem estudo, sem cultura, sem saúde. Isto é uma justificativa? É o sintoma de uma doença chamada miséria. L. não é ninguém... Pobre, viciada, prostituta. É isto o que ela é. Mas o que a coloca nesta situação? A vida sem esperança... A vida sem sentido. A vida num lado do país que não tem olhos, não tem dono e principalmente não tem lei, ou melhor mais do que lei, não tem justiça. A cela onde L. ficou presa dava para ser vista da rua e quem passava podia ouvir os seus gritos de ajuda. Mas ninguém falava nada. Porque se falasse também corria o risco de ter o mesmo destino. L. foi presa em outra cidade próxima a sua, Abaetuda. A cidade possui mais de 400 bocas de fumo, em 2005 aconteceram mais de 30 assassinatos, todos sem investigação ou punição.
Quem colocou L. de 15 anos na cadeia com os outros homens foi a delegada Flávia Verônica Pereira, e quem a manteve presa nesta condição foi a juíza Clarice Maria de Andrade. É bom a gente guardar estes nomes e saber quem são estas mulheres. Não gosto muito de sentimentos que dividem as coisas entre homens e mulheres. Mas nesta questão eu me pergunto: como duas mulheres fazem isto? Com outra mulher? Que poderia ser filha, irmã destas duas mulheres. Até que ponto o crime que comanda a cidade é o mais importante do que o sentimento que alimenta os direitos humanos? Já sei, as duas não são humanas, são um outro tipo de espécie... que a apesar de viver para representar a justiça, já venderam a alma ao diabo a muito tempo... Que diabo estamos falando??? Quem sou eu para dizer... mas uma coisa eu sei... ele deve ter alguma coisa com a porra da cocaína. Assim L. mostrou para o Brasil e o resto do mundo, o que o Pará tem de bom: drogas, prostitutas, uma das piores estradas do mundo, minério e muita gente abandonada... Onde fica o Pará mesmo?? Prá que se preocupar se nem os próprios brasileiros sabem... Quem é L. mesmo?? Quando a comoção passar ninguém vai nem lembrar desta história, aliás vai ser mais uma na nossa coleção de barbaridades.

Comentários

Belíssimo texto Tita. Beijos saudosos.
Anônimo disse…
É uma falta de esperança generalizada.
Parece que ninguém tem mais nada a perder.
Conversa de botequim no dia acontecido. E só.
Lamentável o estado de nossas coisas.
Beijo pra vc

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