Sonho das misses
Dentre
os costumes ocidentais, aquele que acho o mais ridículo são os concursos de
miss. Uma mulher é esculpida a muita dieta, botox, chapinha e o que mais o
valha para colocá-la dentro de um padrão considerado perfeito. Não só no corpo,
mas também na atitude. Miss que é miss tem que ser “bela, recatada e do lar”.
Tanto esforço para ganhar o título de a mais bonita e depois virar um vaso que
acena enfeitando o mundo machista. Mas, existe uma única coisa na vida de miss
que admiro: o seu maior sonho é a paz mundial. E eu sempre me pergunto como a
mais essencial das necessidades de toda a humanidade pode ser tratada de
maneira tão jocosa? Ou você conhece mais alguém que sai por aí respondendo que
o seu maior sonho é a paz mundial? Não lembro!
Pois
bem, depois de
2016, o ano do cão chupando manga no horóscopo tropicalista, vou me entupir da
pieguice e da cafonice, própria das misses, para usar as palavras que se perderam
em um discurso frívolo, e que deveriam ser engarrafadas e distribuídas em toda
esquina: paz mundial, paz mundial, paz mundial!!! E todos nós, reles
seres humanos, que não sabemos andar em um salto agulha, também podemos desejar
do fundo do nosso coração a paz mundial. E podemos fazer mais pela paz mundial,
a partir de nós mesmo. Avisei que ia ser piegas!
Mas, como se antes de tudo
somos os irreparáveis, esquisitos e imperfeitos humanos? Mas como convencer
quem tem o poder de apertar o botão vermelho que a paz mundial é mais
importante que tudo? Mas como se há miséria, fome, guerras em nome de Deus,
corrupção, muros, refugiados, e tanta gente dona de verdades absolutas
derramando sangue, para defender suas verdades absolutas e todos nós sabemos
que não existem verdades absolutas? Mas, como se antes da paz mundial (a mais
importante das necessidades humanas) vem o dinheiro? Mas, como se quem tem,
quer ter mais, tirando de quem não tem nada? Mas como? Mas como? Acho que é por
isso que a vontade da paz mundial ficou na boca de mulheres sem discurso. É só
mais uma bobagem, entre tantas!
Não tenho resposta. Quem
dera tivesse!! Quem dera fosse fácil, rápido e possível! Já imaginei
estratégias infalíveis e sempre paro na intervenção alienígena ou no meteoro. Mas
eu sou brasileira: não desisto nunca e nem perco a esperança. Fui criada assim.
O que fazer?
Então, mesmo parecendo ridícula,
desejo que a paz mundial que há em mim, saúda a paz mundial que existe em cada
um de nós. E que esse desejar cresça, em proporções nunca vistas e seja tão
forte, que consiga transformar as pessoas que apertam os botões vermelhos da
guerra em pessoas-flores, ou quem sabe em pessoas-beija-flor (bem brega, eu
sei...). Seres incapazes de todo mal.
E, na diferença de todos
nós, a paz mundial que saúda a paz mundial de cada um, preencha o corpo, a alma
e o espírito com amor, carinho, ternura, respeito, tolerância, compreensão,
compaixão, amizade, brincadeiras, risos, poesia, música, dança, cinema, séries,
livros, sol, praia, cachoeira, rios, toda a natureza, vinho, cerveja, boa
comida e tudo o mais que as pessoas-flores e a pessoas-beija-flor gostam e
compartilham. Meu desejo para o Natal e para o Ano Novo.
E termino 2016, o ano da girafa com ebola no horóscopo
nórdico, com outra palavra de fundo ridículo, própria das misses: muito
obrigada! Só posso agradecer. Muito. Sei o que foi bom e o que foi ruim, na
verdade foram excelentes. Porque foram e aprendi (bem brega, eu sei...). Mas
mesmo com tudo isso, além da paz mundial, também não posso deixar de falar:
primeiramente, fora temer.
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