Dá-se um jeito.
Hoje
ouvi uma cara contando que estava puto porque teve que pagar uma indenização
para uma funcionária que o tinha processado. Não sei que tipo de comércio é. Só
sei que tem um caixa. A funcionária em questão tinha sido mandada embora por
justa causa porque tinha roubado o caixa do patrão. Durante três meses. A
câmera que ficava em cima do caixa estava desligada e então ele não podia
provar. Porque se tentasse, iam descobrir que ele, de algum jeito que eu não
entendi, mantém um esquema para alterar o caixa, caso a fiscalização passe. “É
um jeito de fraudar”. Ele disse. Alto. Em bom som. Como se fosse a coisa mais
comum do mundo. E na sequência o assunto andou para o lado da crise. E morte a não
sei quem... Botar fogo não sei onde. Porque não sei quem falou na televisão que
só vai piorar. É o que mais se escuta. Eu lembrei do Renato Russo: ninguém
respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é
esse? E a única coisa que eu tenho para
responder é: não sei. Acho que ninguém sabe. Quem sou eu para responder? Mas, tenho
a mais plena consciência que não existe uma resposta só e todas elas não são
fáceis de ouvir ou realizar.
Ninguém
respeita a constituição. Ninguém no nível geral da coisa. E tudo bem falar alto
por aí. Pensei que talvez a gente não tenha noção clara entre o que é permitido
por lei, e o que não é, além do básico “não matarás”. Aqui talvez seja o único
lugar do mundo onde existe a expressão “essa lei não pegou”. Sempre me
perguntei como pode isso? Se é lei. É lei. Mas... dá se um jeito. Dá-se um
jeito pra tudo. O brasileiro aprendeu a
dar seus pulos tentando sobreviver. Com certeza
alguém já deve ter escrito sobre isso por aí, ao analisar o baixo nível da
nossa educação.
Porém,
todavia, contudo, então, chegamos a um momento que mostra claramente não ser mais
possível continuar assim. Mas como mudar? Como quebrar a cadeia de vantagens e
jeitos tão arraigados em nós? Todo mundo é assim? Sei lá!! Tem hora no Brasil
que se você não der um jeito, simplesmente não acontece. Vencer o “sistema
brasil” é uma batalha heroica que a gente vive diariamente. Serve de
desculpas?? Sei lá!! A vida não é fácil.
Na
nossa bandeira está escrito “ordem e progresso”. Nem preciso falar nada dessa
frase, porque muito já foi dito, além da
piadas, memes, vídeos, fotos e fatos. Uma vez uma imagem chamou a minha atenção.
No lugar do tão ambicioso “ordem e progresso”, um foda-se. Pergunte para
qualquer brasileiro qual é o seu sonho? Casa própria? Só se for fora do país.
Brasileiro bem-sucedido mora no exterior. Não é um julgamento de quem foi. Não,
de jeito nenhum. É só que se você quer
abandonar, e é quase um sentimento-típico-brasileiro, foda-se. As pessoas
carregam dentro do seu mais profundo eu um incansável chiado: “esse dia há de
chegar, vou largar essa merda”. Cansei de ouvir.... ainda ouço.
Se
todo mundo tomasse coragem, seríamos mais de 200 milhões de pessoas, que
deixaram para trás 8.514.876 km²,
sendo que 7.408 km
tem vista para o mar. Já pensou? Acho que aí então seríamos a nação mais feliz
do mundo. Longe daqui. E o que aconteceria com todo esse pedaço de terra, na
Terra? Acho que o resto do mundo encontraria espaço para agir da maneira como
sempre viu o Brasil, e a gente se deixou ver, desde a invasão pelos
portugueses: exploração das suas riquezas até que tudo sumisse e aqui então
fosse engolido pelo Oceano Atlântico e esse “problema-chamado-brasil, enfim desapareceria.
Sei que parece sinopse de filme. Total ficção, espero. Porque mesmo em um real
apocalipse, isso não vai acontecer. Muita gente pode até ir embora. Mas outro
número gigante vai ficar. Pelas mais diferentes razões. Eu vou ficar. Nem falo
inglês. Sou tão desgraçada que a língua portuguesa é razão da minha vida. Moro
aqui. É a minha casa. Na verdade de todo brasileiro. Eu sou uma pessoa
estranha. Sou nacionalista. Vai entender? Gosto do Brasil, de ser brasileira,
de morar aqui. Costumo olhar para suas coisas boas, para não esquecer que elas
existem. Ultimamente parece que onde quer que você olhe, tem sempre algo te dizendo
que aqui é o mais perto do inferno. E eu
sei que é difícil, mas não perdi o orgulho de ser brasileira. Não perdi e não
vou perder. Por mais que essa nuvem-negra-entristecida-cansada-raivosa que
paira no ar tente me roubar isso. A nação somos nós. Nós. Mais de 200 milhões
de pessoas!!! Seria muito bom se a gente encontrasse um caminho para a nação.
Longe, bem longe, da atual narrativa nós-eles. O que a gente precisa é saúde,
educação, segurança, arte, comida, ciência, trabalho. É um direito nosso, de
todo brasileiro. Quando é que vamos começar a discutir o Brasil de maneira
clara, honesta e dentro da constituição, mesmo que tenhamos que enfrentar a verdade
cruel e o trabalho imenso que precisa ser realizado por todos? Quando vamos
começar a olhar para dentro do fundo do nosso coração?
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