Cúmplices
(Ficção. Algumas semelhanças com a
realidade, mas bem poucas. Identidades preservadas pela própria dignidade da
pessoa)
Domingo,
perto da meia-noite recebo uma mensagem da distante Inglaterra no celular: “está
vendo o Sportv? Campeonato Mundial de Patinação Artística”. Sem lembrar da entediante
segunda-feira que se aproxima, pulo da cama desesperada e só consigo pensar no que
perdi. Rapidamente, pelo celular, da distante Inglaterra, da terra onde as
pessoas fazem mestrado, recebo as atualizações das últimas apresentações, com
detalhes nas notas... E aí então entro no reconforte mundo dos
saltos-e-piruetas-com-babados-no-gelo. Feliz é aquele que tem uma amiga para
dividir o amor pela patinação. Mais feliz ainda é quem tem um amiga para
compartilhar suas impressões sobre outro derivado dos pulos-com-fru-fru: filmes
de patinação. Afinal são poucas as pessoas no mundo que vão soltar um suspiro
ao ouvir: “Um casal quase perfeito”. Clássico... até hoje insuperável...(Disney,
me desculpe mas Sonhos no Gelo nunca será “Um casal..., talvez se comparamos
com Um casal quase perfeito três (existe!))... Enfim, isso é mais que uma
amizade. É quase como ser cúmplice em um crime.
Mais
difícil do que encontrar alguém para falar sobre patinação artística, é
aguentar sozinha o preconceito por gostar de Alcione. Mas eu não passo por
isso... D, assim como eu, também é fã da Marrom (mesmo quando ela aparece
vestida de cereja). E podemos compartilhar o momento de cantar (dentro do carro
é claro), fazendo um dueto, “garoto, maroto, travesso....”, É uma alegria inexplicável.... Mas é tão difícil
sair desse armário, o risco de bullying é aterrorizador...
L,
divide comigo o amor pelas fontes... e
alguma cascatas. Acho lindo. Como L é arquiteta, a gente sonha ganhar na
loteria, só para construir uma casa com uma grande, esquisita e chamativa “fonte-elefante”.
A título de curiosidade, elefante em casa dá sorte... Enquanto a grana da
loteria não vem, ficam espalhados pela casa elefantinhos-de-bisquit-com-espelhinhos-colados...
E o ridículo de tudo isso toma horas e horas de boas conversas...
principalmente se tiver cerveja no meio. Mas a gente sempre concorda que fonte
de respeito é a “Casa da Pedra” do Frank Lloyd...
J,
Outra parceira da clandestinidade, é uma pessoa respeitada, principalmente
quando o assunto é economia e investimento, que mantém em segredo uma coleção
respeitável de Júlia e Sabrina... antigas. “Que delícia para zerar o QI.”...
costuma dizer, se desculpando por esse amor bandido. E por considerar “o torso nu do Capitão
Walker, protegendo finalmente Lisa.”, quase Joyce... Sonho um dia escrever um
livro desses, e me divirto procurando pseudônimos... Chegamos à conclusão que
Dolores Ruas é uma boa opção. Ainda não achei um bom nome para o meu capitão...
claro que precisa ser uma história na praia. São os nossos preferidos.... E é
melhor eu parar por aqui para não piorar, ou colocar em risco a cumplicidade...
São gostos que não tem explicação. Ou lógica. São gostos-duvidosos que brotam
de um desastre químico do cérebro. Acontece, sem que se possa fazer nada, com
muita gente e é involuntário. Talvez isso explique o ditado “sapo não anda com cobra”... tem sempre alguém
por aí para compartilhar o seu lado Z...
Comentários