A incrível marca dos 31 anos Eu demorei um bom tempo para pensar nisso… Deixei passar os 30 batido. Sei lá se tinha algo para comemorar… Às vezes, tenho umas crises com a televisão. Em média, umas 200 por ano. A foto da minha carteira de trabalho, querendo ou não, me diz que cheguei a incrível marca dos 31 anos de audiovisual. Eu considero incrível, porque eu ainda me pergunto como não estou usando uma camisa de força. É isso: 31 anos no ar, que foram completados no dia 16/09/23. Eu comecei fazendo estágio na Rádio Bandeirantes AM (favor procurar no Google o que era rádio AM) . Consegui a vaga no CIEE. A Sarah, que era diretora de RH da emissora naquele tempo, foi com a minha cara só porque eu estava carregando um livro. Era o Boca do Inferno, da Ana Miranda, biografia do poeta Gregório de Matos. A Sarah foi uma das primeiras pessoas que me ajudou. Sou muito grata a ela. Antes da palavra sororidade estar na moda, ela já estava lá praticando, não só comigo, como muitas outras mu
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O Navio de Teseu
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Um livro que salta das páginas, literalmente. A primeira vez que peguei nas mãos “O Navio de Teseu” estava em um jantar na casa da minha querida amiga, Ilka. Ela me mostrou como se faz com as coisas raras e fascinantes. E eu lutei muito contra a vontade que me deu de sair correndo e ir até a livraria mais próxima para ter o meu próprio exemplar (caso alguém sinta a mesma coisa, o aeroporto é o lugar de livrarias sempre abertas – fica a dica para os alucinados). Me contive. Assim como tive que me conter sem ter tempo para poder lê-lo. Mas agora consegui. E é um desses livros que te atravessam, ficam na sua cabeça, alma e coração. O projeto gráfico é maravilhoso. Com aparência de uma edição antiga, publicada em 1949, é um típico livro de biblioteca: todo consultado, anotado, manuseado, que vem dentro de uma caixa selada de S. (só lendo para entender o S) . A lombada está gasta e as páginas amareladas, rabiscada com comentários. Além disso, entre as folhas há cartas, cartões-postais
A vida é pura felicidade
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“A vida é pura felicidade. O nascimento, a enfermidade, a velhice e a morte são quatro presentes tão maravilhosos, como o ciclo das estações. Você nunca pode ficar separado daqueles que ama, eles vivem em seu ser para sempre. Ter que estar com aqueles que não ama é impossível, porque você deixou de detestar. Como a do Sol, a sua luz é para todos, você ama inclusive o que lhe parece odioso. Não poder satisfazer os desejos não é sofrimento, porque o que importa é o prodígio de ter desejos. Quer isso lhe satisfaça ou não, lhe é outorgado o sentimento de estar vivo. Vá além de “a causa dos sofrimentos é o apego aos desejos e às coisas” porque o apego aos desejos e às coisas, quando não é possessivo, é sublime bondade. Tudo que parece impermanente fica gravado na memória de Deus. Cada segundo é a eternidade. Vá além do “ao pôr um fim a esses apegos pode-se pôr fim aos sofrimentos”. Não se pode pôr fim a esses apegos. Sendo tudo uno, como a unidade vai desprender-se de si mesma? O apego por
Arte Pelada
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Não estranho o fato de que em pouco tempo duas polêmicas envolvendo arte e artistas estejam no centro das discussões. Todas elas infrutíferas, quase esdrúxulas e acima de tudo muito ignorante. Mas eu tenho me perguntado o que é que está por trás desta guerra? É trata-se de uma guerra. E para mim a resposta é muito fácil... Enquanto o discurso se inflama por todos os lados, e no calor da emoção onde de tudo um pouco é dito, vai assim como quem não quer nada emergindo o já conhecido discurso de que todo artista é maluco, de que a arte não serve para nada e que tudo isso é perda de tempo, coisa de gente desocupada, que deveria tá pegando em uma enxada ou apertando botão em algum lugar mais decente. Afinal o que é um quadro ou uma música diante da fome? Ou o que é uma peça de teatro diante do desemprego? O que é um homem pelado em um Museu de Arte Moderna diante da violência? Nada! Desnecessário, absolutamente desnecessário. Morram estes vermes! Todos eles!! Tirem o sustento destes malu
Sonho das misses
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Dentre os costumes ocidentais, aquele que acho o mais ridículo são os concursos de miss. Uma mulher é esculpida a muita dieta, botox, chapinha e o que mais o valha para colocá-la dentro de um padrão considerado perfeito. Não só no corpo, mas também na atitude. Miss que é miss tem que ser “bela, recatada e do lar”. Tanto esforço para ganhar o título de a mais bonita e depois virar um vaso que acena enfeitando o mundo machista. Mas, existe uma única coisa na vida de miss que admiro: o seu maior sonho é a paz mundial. E eu sempre me pergunto como a mais essencial das necessidades de toda a humanidade pode ser tratada de maneira tão jocosa? Ou você conhece mais alguém que sai por aí respondendo que o seu maior sonho é a paz mundial? Não lembro! Pois bem, depois de 2016, o ano do cão chupando manga no horóscopo tropicalista, vou me entupir da pieguice e da cafonice, própria das misses, para usar as palavras que se perderam em um discurso frívolo, e que deveriam ser engarrafadas e distrib
Precisamos falar sobre a não-ficção
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Vamos imaginar que o audiovisual seja dividido em castas. A mais elevada de todas é o cinema. Logo abaixo, ocupando lugar que poderia ser dos sacerdotes, está o documentário. Embaixo, mas não menos pura, está a televisão quando ela faz dramaturgia, jornalismo não-sensacionalista e o esporte. Aqui também transita a casta da publicidade, algo equivalente ao lugar ocupado pelos banqueiros em outros mundos. E aí abaixo de tudo isso, equivalente aos parias e intocáveis, está uma casta ruidosa, espalhafatosa, sentimental, chorona, que adora piadas de duplo sentido e torta na cara, fofoqueira, desorganizada, cafona, que não dispensa um glitter e um dourado, adora cozinhar, decoração e viagem... É a televisão que faz não-ficção/humor. É aí nesse mundo de diversidades que se encontram os realities, os programas de auditório, variedades, entretenimentos, jornalismo sensacionalista, humorísticos de gosto duvidoso, talk-shows entre outros tipos de programas. Aí agora vamos imaginar que em u
Dá-se um jeito.
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Hoje ouvi uma cara contando que estava puto porque teve que pagar uma indenização para uma funcionária que o tinha processado. Não sei que tipo de comércio é. Só sei que tem um caixa. A funcionária em questão tinha sido mandada embora por justa causa porque tinha roubado o caixa do patrão. Durante três meses. A câmera que ficava em cima do caixa estava desligada e então ele não podia provar. Porque se tentasse, iam descobrir que ele, de algum jeito que eu não entendi, mantém um esquema para alterar o caixa, caso a fiscalização passe. “É um jeito de fraudar”. Ele disse. Alto. Em bom som. Como se fosse a coisa mais comum do mundo. E na sequência o assunto andou para o lado da crise. E morte a não sei quem... Botar fogo não sei onde. Porque não sei quem falou na televisão que só vai piorar. É o que mais se escuta. Eu lembrei do Renato Russo: ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é esse? E a única coisa que eu tenho para responder é: não sei.